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Jorge Sampaio (1939-2021) Foto: Paulo Spranger/Arquivo Global Imagens |
O Projeto Europa+/ Clube Europeu, deixa aqui uma breve e sentida homenagem a um homem que sempre lutou pela justiça, pois e como afirmou o atual Presidente da República, prof. Marcelo Rebelo de Sousa, "Sampaio nasceu e formou-se para ser um lutador e a causa da sua luta foi a liberdade da igualdade”.
A história deste "homem bom", é a história da liberdade e da verdade.
No livro biográfico sobre Sampaio de José Pedro Castanheira, Jorge Sampaio-Uma Biografia, o colecionador de discos e de pinturas, o jurista, o autarca, e antigo Chefe de Estado admite que existe sempre uma história para trás, revelou o seu "chumbo" na escola, a alcunha com que era conhecido, "o cenoura", as suas aulas de piano, chegando a confessar "Quando assisto a um concerto, sinto sempre que gostava de estar do outro lado".
Observando um pouco da trajetória política e pública...
Foi no ano da campanha do general Humberto Delgado às presidenciais, em 1958, Sampaio ainda com 19 anos numa ditadura em que a maioridade era atingida apenas aos 21, mas já Presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que despontou o seu entusiasmo pela política. Como reconheceu: "Sentíamos que era preciso fazer alguma coisa para mudar tudo aquilo [o regime]. Fiquei, sem dúvida, agradecido à experiência que isso me deu e à espantosa qualidade que deu a todos nós: a capacidade de questionar o futuro e querer sempre melhor. Sim".
Em 1961-62 foi Secretário-Geral da Reunião Inter Associações Académicas
(RIA).
Após a licenciatura em Direito em 1961 pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e na qualidade de Secretário-Geral da RIA é um dos protagonistas da crise académica do princípio da década de 60, a qual esteve na origem de um longo e generalizado movimento de contestação estudantil, de uma forte e persistente ação de oposição ao regime, que durou até ao 25 de Abril de 1974, e que abalou profundamente o Regime. Sendo uma voz bastante significativa no movimento estudantil e na defesa, em tribunais plenários, dos presos políticos.
Ainda na década de 60, deu início a uma intensa carreira de advogado, que se estendeu por todos os ramos de Direito, tendo desempenhado também funções directivas na Ordem dos Advogados.
Desenvolve também uma constante atividade política e intelectual, participando nos movimentos de resistência e na afirmação de uma alternativa democrática de matriz socialista, aberta aos novos horizontes do pensamento político europeu. Tendo sido criticado quando, nos anos 60, dizia que "a democracia global tem que envolver também a democracia participativa e não só a representativa" .
Entendia o 25 de abril de 74 como uma "libertação" e retratava o tempo da ditadura através da metáfora "viver num quarto escuro". Foi ainda o autor do slogan "25 de abril, sempre!".
Nos anos da Revolução, tem um importante papel no diálogo com a ala moderada do MFA, sendo um ativo apoiante das posições do “Grupo dos Nove”.
Em Março de 1975, é nomeado Secretário de Estado da Cooperação Externa, no IV Governo Provisório.
A sua inquietude e intranquilidade com o que estava à sua volta, fê-lo fundar o MAR (Movimento de Ação Revolucionária), o MES (Movimento de Esquerda Socialista) e o IS (Intervenção Socialista), este último fundado em 1975 e era um grupo constituído por políticos e intelectuais,
que viriam a desempenhar funções de relevo na vida pública,
e que desenvolveu um significativo trabalho de reflexão e renovação
política.
Em 1978, Jorge Sampaio adere ao partido Socialista. Em 1979, é eleito
deputado à Assembleia da República, pelo círculo de Lisboa, e passa a
integrar o Secretariado Nacional do PS.
De 1979 a 1984, é membro da Comissão Europeia dos Direitos do Homem no
Conselho da Europa, realizando aí um importante trabalho na defesa dos
Direitos Fundamentais e contribuindo para uma aplicação mais dinâmica
dos princípios contidos na Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Em 1987/88 é Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, tendo assumido, em 1986-87, a responsabilidade das Relações Internacionais do PS. Foi ainda co-Presidente do “Comité África” da Internacional Socialista.
No ano de 1989, é eleito Secretário-Geral do Partido Socialista, cargo que exerce até 1991, e é designado, pela Assembleia da República, como membro do Conselho de Estado.
Em 1989, decide concorrer à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, cargo para o qual é, então, eleito e depois reeleito, em 1993. Como Presidente da Câmara de Lisboa e à frente de uma equipa, afirmou uma visão estratégica, com recurso a novas concepções e métodos de planeamento, gestão, integração e desenvolvimento urbanístico.
De 1990 a 1995, exerce a Presidência da União
das Cidades de Língua Portuguesa (UCCLA), sendo eleito Vice-Presidente
da União das Cidades Ibero-Americanas, em 1990. Foi também eleito
Presidente do Movimento das Eurocidades (1990) e Presidente da Federação
Mundial das Cidades Unidas (1992).
Quando se candidatou a Presidente da República, recebeu o apoio de inúmeras personalidades, independentes e de outras áreas políticas, com destaque na vida política, cultural, económica e social, tendo sido foi eleito em janeiro de 1996, foi então que Sampaio afirmou que "não existem maiorias presidenciais" e foi reeleito em janeiro de 2001. É unânime que estes 2 mandatos terão sido os mais complexos da democracia portuguesa. Pessoalmente, sobreviveu a duas operações ao coração; politicamente, atravessou cinco governos. Dissolveu a Assembleia da República, promoveu os primeiros referendos nacionais, foi recordista de vetos (22, todos ganhos), percorreu os 308 concelhos do país, passou pelos escândalos da Universidade Moderna e da Casa Pia e teve um papel fundamental na independência de Timor Leste, que logo visitou, tendo sido o primeiro chefe do Estado português a fazê-lo.
Jorge Sampaio manteve, ao longo dos anos, uma constante intervenção político-cultural.
Em 1991, publicou, sob o título A Festa de Um Sonho, uma coletânea dos seus textos políticos.
Em 1995, é editado o seu livro Um Olhar sobre Portugal, no qual responde a personalidades de vários sectores da vida nacional, configurando a sua perspetiva dos problemas do País.
Em 2000, publica o livro Quero Dizer-vos, em que expõe a sua visão atualizada dos desafios que se põem à sociedade portuguesa.
Foi agraciado com várias condecorações e recebeu diversas distinções nacionais e estrangeiras.
Sampaio foi um guerreiro, humanista e um progressista. . E quando
"falava na cooperação com os novos países de expressão portuguesa",
chegaram-no a acusar de ser terceiro mundista.
Em 2006 foi escolhido pelo secretário geral das Nações Unidas (ONU), primerio por Kofi Annan e depois por Ban Ki Moon, para ser enviado especial para a luta contra a tuberculose e pouco tempo depois foi designado como Alto Representante para a Aliança das Civilizações. O desempenho dessas funções valeu-lhe uma distinção (em 2015) da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o primeiro prémio Nelson Mandela instituído pelas Nações Unidas para premiar "feitos e contribuições excecionais ao serviço da humanidade".
Por cá, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa distinguiu-o com a Ordem do Infante D. Henrique por causa do trabalho com os estudantes sírios que desenvolveu desde 2013.
Poucos dias antes de ser internado no Hospital de Santa Cruz (antes do final do passado mês de agosto), anunciou ainda um programa de emergência de bolsas de estudo para jovens afegãs.
Fontes:@presidencia.pt; jornal Expresso; jornal Diário de Notícias; Observador; SIC
Os 81 anos de Jorge Fernando Branco de Sampaio são bem representativos de que era um homem que buscou sempre consensos, com os pés no chão e olhos postos no futuro - e nos outros.
Ainda ficou muito por escrever...
No entanto, homenagear o "homem bom" recordando o seu percurso de vida, é uma das formas de celebrar as vitórias que foi alcançando e não deixar que caiam no esquecimento.
Além disso, esperamos que o "homem bom", aquele que dizia que se sentia "prisioneiro de uma grande ansiedade por um futuro melhor. Isso, sem dúvida. Mas vale a pena." sirva de inspiração às gerações mais jovens.
Termina-se com uma das suas afirmações que resume a premissa pela qual se norteou:
"Há um movimento permanente na minha vida, é o de ter
preocupações com aquilo que nos cerca."
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