O Projeto Europa+/Clube Europeu é um projeto transversal e um dos objetivos é dar conhecimento, fazer refletir e, acima de tudo, educar para a cidadania, indo ao encontro de uma das premissas do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, que é
"Perante os outros e a diversidade do mundo, a mudança e a incerteza, importa criar condições de equilíbrio entre o conhecimento, a compreensão, a criatividade e o sentido crítico. Trata-se de formar pessoas autónomas e responsáveis e cidadãos ativos."
Guilherme d' Oliveira Martins
(Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, 26 de julho)
Assim, não se podia deixar de abordar (aqui) um dos assuntos do dia:
Afeganistão, porque
Hoje o medo intensificou-se no Afeganistão ...
a foto que está a chocar o mundo!
(em pleno séc. XXI)
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Pais,em desespero, tentam entregar os seus filhos aos soldados estrangeiros. Na imagem bebé com 1 mês. (Reuters) |
Está escrito que, a menos que se entreguem, os talibãs vão prender, processar, interrogar e punir os familiares em nome dessas pessoas”, acrescentou.
Christian Nellemann adverte ainda que qualquer pessoa que conste da lista negra do grupo fundamentalista corre sério perigo e que poderá haver execuções em massa.
O Passado Remoto, o Passado Recente, o Presente caótico e a incógnita do Futuro
No ano letivo 2002/2003, para comemorar o Dia Internacional da Mulher (8 de março), a (então) Escola Secundária de Alcácer do Sal apresentou uma exposição sobre as mulheres afegãs, nomeadamente a falta de direitos imposto pelo regime talibã, assim como foi divulgada a lista das 29 proibições que os talibã impuseram ao sexo feminino, tudo isto acompanhado de imagens (fotos) reais de correspondentes estrangeiros no país. Esta exposição foi uma iniciativa do (então) "Clube dos Direitos Humanos" cujas docentes responsáveis eram as professoras Henriqueta Sousa e Paula Martins. Pode-se dizer que foi um sucesso, pois muitos cidadãos e cidadãs do concelho de Alcácer do Sal, sem relação direta com a escola, pediram para visitar a exposição.
No entanto, nessa época os afegãos e as afegãs já se começavam a libertar do regime talibã, e a ideia que vingava era a de que o país iria renascer, sobretudo no tratamento dado ao sexo feminino... . Mas não foi assim, apesar de se terem libertado da opressão imposta pelos Talibã, há sinais de um país que não respeita os direitos femininos, por exemplo, ainda em 2012, os abusos contra as mulheres são generalizados. É uma triste ironia ver que os fracos recursos do sistema judicial são utilizados para perseguir e prender mulheres e raparigas por ações que nunca deveriam ser crimes”, lamentou a organização de defesa dos direitos humanos.
Cerca de 400 mulheres e raparigas estavam em 2012 presas no Afeganistão por aquele tipo de “crimes morais”, calculou a HRW.
Fonte:@Público
Então, vejamos um pouco da história deste país localizado no centro asiático, um país de montanhas, sem mar...
Bill Podlich, um professor catedrático norte-americano em 1967 viajou para o Afeganistão a serviço da UNESCO e permaneceu neste país durante dois anos. Foi na qualidade de Conselheiro de Princípios de Educação em Cabul que Podlich tirou excelentes fotografias, que mostram um estilo de vida completamente diferente daquele que se instalou depois da invasão russa e da posterior chegada dos talibã.
Vejamos algumas fotografias captadas por Bill Podlich, que são, nada mais nada menos, um excelente testemunho da década de 60 (séc. XX) no Afeganistão, o qual parecia um país europeu, onde as crianças, sobretudo meninas, brincavam nas ruas, onde jovens frequentavam a escola e a universidade, onde rapazes e raparigas partilhavam a mesma sala de aula, onde se via um país "inteiro", sem destroços, ou um país onde havia cor, alegria e felicidade.
Mas isto foi antes da(s) guerra(s).
No entanto, nem sempre foi assim. Vejamos o que nos diz a linha do tempo:
1.º o Afeganistão, devido à sua localização, foi sempre alvo de muitas invasões, reconquistas, revoluções e contra-revoluções, conflitos étnicos e políticos.
2.º de 1838 a 1842 deu-se a 1.ª guerra afegã, que se iniciou com uma invasão anglo-indiana, onde foram tomadas várias cidades, mas em 1842 os britânicos abandonaram o país e Dost Muhammad voltou a comandar os destinos do país.
3.º em 1878 deu-se nova invasão anglo-indiana e o neto de Dost, Abd-ar-Rahman, ficou no trono, mas teve que ceder um importante ponto geo-estratégico aos britânicos, o Passo de Khyber e outros territórios afegãos.
4.º Abd-ar-Rahman foi assassinado e o seu sucessor foi Amanullah Khan que declarou guerra aos britânicos.
5.º Em 1919, a Grã-Bretanha declarava o Afeganistão como Estado independente e
Amanullah como rei afegão.
6.º Amanullah (rei afegão) durante a década de 20 (séc. XX) fez reformas políticas e implementou medidas de modernização, nomeadamente no domínio da educação para as mulheres.
7.º O sucessor de Amanullah, Zahir Shah, na década de 40 (séc.XX) continuou a apostar no programa de modernização e em 1946 o Afeganistão integrou a ONU.
8.º Zahir Shah foi derrubado em 1973 e foi proclamada a República do Afeganistão.
9.º Em 1978, e após um violento golpe de Estado, um Conselho Revolucionário tomou o poder e deu início a um programa socialista que provocou a ira de parte dos muçulmanos, conduzindo à resistência armada.
10.º Em 1979, e perante a impotência do governo para controlar a rebelião, os Soviéticos entraram no país de forma a apoiar o regime pré-comunista e tentar que o país não caísse nas mãos do fundamentalismo islâmico.
11.º O exército soviético foi derrubado por grupos de guerrilheiros afegãos (mujahedin), que tinham o apoio financeiro e militar norte-americano, e também do Paquistão e do Irão. Esta guerra durou 9 anos e a União Soviética perdeu 15000 soldados. O fracasso foi mesmo apelidado de “Vietname Soviético”.
12.º Em 1989, foi quando se deu a retirada definitiva da União Soviética. No entanto, a Guerra Civil continuou no país e em 1992, o presidente afegão apoiado pelos Soviéticos, Mohamed Najibula, deixa o poder e os rebeldes tomam Kabul (Cabul).
13.º O Afeganistão torna-se numa República Islâmica e, em 1993 , uma Assembleia Nacional, composta por varias fações rivais, líderes tribais e
religiosos, aprova a criação de um novo parlamento. No entanto a união de várias fações dura muito pouco tempo.
14.º A partir de 1994 começa o crescimento e ascensão de uma nova força política: os talibã, um grupo fundamentalista islâmico financiado pelo Paquistão.
15.º O rosto do Afeganistão começa a transformar-se radicalmente tornando-se um país de privações, alimentares e democráticas, com regras rígidas para as mulheres e destruído por sucessivas guerras.
16.º Em 1995 é evidente a presença, no cenário político afegão, uma milícia islâmica fundamentalista (financiada pelo Paquistão) chamada Talibã.
17.º Em 1998, os Talibã já haviam conquistado 90% do Afeganistão.
18.º Em outubro de 2001, os EUA começam a guerra contra o Afeganistão no intuito de destituir os Talibã e matar Osama Bin Laden (terrorista responsável pelos ataques com aviões em 11 de setembro de 2001, em Nova York). Osama foi morto em 2011 no Paquistão, perto da fronteira com o Afeganistão.
19.º Em fevereiro de 2020 (sob o governo de Donald Trump), os Estados Unidos e os Talibã assinaram um "acordo
para trazer a paz" ao Afeganistão que há anos vinha sendo discutido. Assim, os Estados Unidos e seus aliados militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)
concordavam em retirar todas as tropas do território em troca do
compromisso do grupo de não permitir que a Al-Qaeda ou qualquer outro
grupo extremista operasse nas áreas que controla.
Como parte das negociações, os Talibã e o Governo Afegão
concordaram em libertar parte de seus prisioneiros. Quase 5 mil
militantes talibã foram libertados nos meses seguintes ao acordo.
20.º no presente ano civil, 2021, as tropas americanas e seus aliados na NATO, incluindo Portugal, deixam o país, que é tomado novamente pelos Talibã, que, segundo o analista político Oliver Stuenkel, é improvável que o grupo extremista se aproxime dos EUA ou de organismos internacionais. No entanto, o poder Talibã contrasta com o debilitado governo afegão, corrupto, dividido e dependente de forças estrangeiras.
21.º Durante 2 décadas estiveram presentes Forças Armadas Estrangeiras, o qual segundo alguns especialistas foi bem sucedido, nomeadamente pelo controlo que foi feito de contraterrorismo internacional, pois não houve um único ataque terrorista internacional bem-sucedido planeado a partir do Afeganistão.
Fontes: @Observador / @BBC / @g1.globo
Os Talibã foram indicados pela Forbes em 2016 como a 5.ª mais rica entre as 10 organizações consideradas terroristas, tendo quadruplicado em cinco anos o seu património (os negócios prosperam, oriundos sobretudo de negócios ilícitos, nomeadamente tráfico de drogas, extorsão e cobrança de impostos aplicados a quem detém os campos de papoula, da mineração e de doações de fundos de caridade, especialmente de países do Golfo).
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Combatentes do Talibã assumem o controle do Palácio Presidencial afegão em Cabul, capital do Afeganistão, após o presidente Ashraf Ghani fugir do país em 15 de agosto de 2021 — Foto: Zabi Karimi/AP |
“A nossa exigência é que a América, a Europa e outros países lidem connosco politicamente”, afirmou Zabihullah Mujahid (o porta-voz dos talibãs
Será que outras afirmações (abaixo transcritas) proferidas por Zabihullah Mujahid (porta-voz talibã) ir-se-ão concretizar?
. “O Emirado [Islâmico do Afeganistão] não se vai vingar de ninguém”;
. “todas as fações, de A a Z, serão perdoadas”;
. “O Afeganistão não é mais um campo de batalha. As animosidades terminaram.”
. “Estamos comprometidos com os direitos das mulheres, no quadro da sharia [a lei islâmica]. As mulheres afegãs são muçulmanas.”
. sobre a existência de casos de violência e abusos sobre cidadãos. Disse que esses episódios serão investigados e os seus autores interrogados. “Há pessoas armadas que têm de ser desarmadas.”
. sobre o caso dos afegãos que trabalharam para as tropas estrangeiras: “Ninguém lhes vai bater à porta e perguntar para quem trabalharam. Todos os nossos compatriotas foram perdoados. Ninguém será alvo de ações de vigança.”
NATO
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A NATO tem seguido de muito perto a evolução da situação no Afeganistão e
o seu secretário-geral, o ex-primeiro-ministro norueguês, Jens
Stoltenberg, tem-se desdobrado em contactos sobre o assunto. Esta
sexta-feira sucedeu mais um encontro com os ministros dos Negócios
Estrangeiros dos Estados-membros, no final da qual, Stoltenberg afirmou
que “o que temos testemunhado nos últimos dias é uma tragédia para o
povo do Afeganistão”. Fonte: @Jornal Económico |
Uma coisa é certa...
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O voo, em direção ao Qatar, num avião de carga militar C-17 Globemaster III(de carga) da Força Aérea Americana não estava programado para 640 passageiros. Mas dezenas de pessoas em pânico aproveitaram a porta de
carga do avião semi-aberta para entrarem. E a decisão foi partir! @Observador |

Avião da Força Aérea alemã acabado de aterrar no Uzbequistão com afegãos trazidos de Cabul Bundeswehr / Marc Tessensohn / H (@Expresso)
Há muita apreensão e desconfiança, sobretudo por parte das mulheres...
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Khalida Popal, de 34 anos, exilada desde 2016 na Dinamarca (devido a ameaças de morte), deu voz às mulheres do Afeganistão através do futebol, agora pede-lhes que se "escondam"(@Observador) |
“Isto quebra o meu coração porque todos estes anos tentámos criar visibilidade para as mulheres e agora estou a dizer às minhas mulheres no Afeganistão que se calem e que desapareçam. As suas vidas correm perigo”, disse a jogadora de futebol à Associated Press.
“Tenho encorajado a que cancelem as contas nas redes sociais, que apaguem fotografias, que tentem escapar e que se consigam esconder.”
Fonte:@Observador

Nobel da Paz , a ativista paquistanesa, Malala Yousafza, que sobreviveu a um ataque de talibãs paquistaneses em 2012 ( Foto:Olivia Harris)

Nobel da Paz , a ativista paquistanesa, Malala Yousafza, que sobreviveu a um ataque de talibãs paquistaneses em 2012 ( Foto:Olivia Harris)
"Nas últimas duas décadas, milhões de mulheres e meninas afegãs receberam educação. Agora, o futuro que lhes foi prometido está perigosamente perto de desaparecer. O Talebã - que até perder o poder 20 anos atrás proibiu quase todas as meninas e mulheres de frequentar a escola e aplicou punições severas àquelas que os desafiaram - está de volta ao controle.
Como muitas mulheres, temo por minhas irmãs afegãs".
O que pensa a Europa...
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na visita a um centro de acolhimento (em Madrid) para os funcionários afegãos da União Europeia no dia 21 de agosto, defendeu que:
."não se pode dar um euro que seja de ajuda humanitária a regimes que
negam às suas mulheres os seus direitos, liberdades e o acesso ao
trabalho e aos estudos" ou seja " os milhões de euros de fundos europeus para ajuda ao desenvolvimento
estão condicionados ao respeito pelos direitos humanos, das minorias e
das mulheres e meninas"
."não há um reconhecimento político do novo regime afegão, admitindo, no entanto, contactos operacionais"
. "Não há conversações políticas com os talibãs, não há reconhecimento dos talibãs, mas temos, claro, contactos operacionais com os talibãs, o que é algo completamente diferente"
."Podemos ouvir os talibãs, mas vamos avaliá-los pelos seus atos; a situação é muito pouco clara".
A Presidente da Comissão Europeia fez ainda um apelo a todos os Estados que participaram das missões no Afeganistão, aos Europeus e a outros
. que concedam limites suficientes de receção (...) para que possamos agir coletivamente em ajuda daqueles que precisam de proteção. (...) A Comissão está disposta a considerar os meios orçamentários necessários para apoiar os Estados-membros da União Europeia que se oferecerem a ajudar os refugiados a se instalarem em seu território.
Termina-se este post com algumas palavras e apelos da
" O Governo português deve agir, enquanto país promotor da defesa e proteção dos direitos humanos, para cumprir a sua parte e dentro da sua esfera de atuação enquanto membro da União Europeia (UE), da NATO e da ONU, atuar na liderança da promoção dos direitos humanos".
"Proteger estas pessoas é uma obrigação moral, humanitária e legal".
Portugal atue "de forma a influenciar outros países da UE a cumprirem as suas obrigações morais, humanitárias e legais, e a não continuarem com a política de regressos forçados ao Afeganistão".
Em sede internacional" -- na UE, na NATO e na ONU - Portugal possa liderar e promover uma reflexão adequada sobre esta crise e que se façam aprendizagens sobre a mesma, nomeadamente no que diz respeito à discrepância de orçamentos para fins militares em comparação com os orçamentos disponibilizados em ajuda pública para a Cooperação e Desenvolvimento e para os Direitos Humanos".
Fica a incógnita sobre o futuro do povo afegão e refugiados!
Um verdadeiro drama, sentir a impotência de pouco poder fazer é igualmente dramático! não consigo descrever a revolta e a tristeza que sinto.A vós, muito obrigado 👏
ResponderEliminarAgradecemos o comentário, que transmite o que também nós sentimos!
EliminarInacreditavel, de facto em pleno sec.XXI, uma vergonha para o mundo e principalmente para os países ricos e que nos deve fazer pensar.
ResponderEliminarParabéns pelo excelente trabalho e pelo alerta para esta realidade dramática.
Agradecemos o comentário e também partilhamos da mesma estupefação, como é que no séc. XXI ainda se sujeita homens, mulheres e crianças a este purgatório.
EliminarQue este povo consiga manter a sua fé!
ResponderEliminarA cada dia que passa as sociedades aproximam-se mais de extremismos e que só trazem consigo sofrimento e desigualdades. Nem com uma pandemia mundial estamos a aprender...
Agradecemos o comentário e também nos custa a acreditar o quanto alguns cidadãos deste planeta ainda não aprenderam com o flagelo de uma pandemia!
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